sábado, 2 de abril de 2011

Rafael: aniversariante do mês de março.



No dia 20 de março quem soprou as velinhas foi Rafael Borges, propedêuta da cidade de Sombrio. Ele fez questão de escrever sua história de vida e superação. Desde muito pequeno fui muito ligado à Igreja, mas a Igreja começou na minha casa. A minha mãe e minha avó que me ensinaram os primeiros passos na oração: ensinaram-me a rezar e também o que era certo e o que era errado na vida.

Fui crescendo num bairro simples, numa rua simples, com pessoas simples, e uma dessas pessoas convidou-me para ir à Igreja. Fui e comecei a frequentar, e desde aquele dia nunca mais parei de ir. Desde então senti um calor muito forte em meu coração e a vontade de ser padre, mas as pessoas, famílias e amigos não levavam a sério quando eu dizia que queria ser padre. Só aquela mulher, minha vizinha e ministra da Igreja, sempre acreditava. Naquele bairro tinha muitos amigos, os quais tenho até hoje, mas certo dia minha família decidiu mudar-se daquele bairro, São Luiz, Sombrio, para o outro lado da cidade, Bairro Nova Brasília. Um bairro recém criado que ainda tinha poucos moradores. Na minha rua só havia três casas e nelas só moravam mulheres. Apesar do tempo comecei a frequentar a escola e conheci alguns amigos, alguns eram bons e outros nem tanto. Vivia angustiado na nova morada pois não havia ainda igreja. Na comunidade mais próxima minha mãe não deixava participar, pois era longe demais para uma criança ir a pé.


Conheci um amigo chamado Alan, e me identifiquei muito com ele. Fiquei muito amigo também da família dele. Neste tempo passava até o sonho de ser padre, mas a fé não morria. Até que numa tarde de domingo, nós estávamos andando de bicicleta e o Alan atravessou a esquina no mesmo tempo que um ônibus sem perceber cortou sua frente, atropelando meu amigo e esmagando quase todo o seu corpo. Alan veio a falecer naquele mesmo instante. Eu entrei em estado de choque. Naquele dia muita coisa acabou para mim. Chorei muito e só no outro dia fui ao velório. Naquele tempo minha família novamente mudou-se.


Voltando para o bairro São Luiz, num casarão. Era tudo muito diferente, e naquela rua tinha bastantes jovens. Comecei a fazer novos amigos e conheci quatro jovens. Nós tínhamos algo em comum, um espírito aventureiro. Convivi 7 anos com eles e aprendi muita coisa. E eles começaram a me apresentar algumas gurias, assim eu comecei a namorar. Só que quando eu beijava uma guria, meu coração ardia lembrando-se da vontade de ser padre. Só que ficava quieto por vergonha de brincadeiras.


Algumas atitudes deles me fizeram refletir muito, então comecei a voltar para a Igreja. Fiz minha primeira comunhão e minha crisma. Vi minha família aumentar cada vez mais. Muitas pessoas vinham me pedir orações por elas e eu muito rezava. Comecei a ficar popular por lá. Só ficava chateado porque meus amigos não se interessavam pela Igreja, mas eu continuava amigo deles.


Comecei a trabalhar num mercado recém inaugurado. Até que um dia estava indo trabalhar e passei em um posto de gasolina, onde queria ler o jornal e conversar com amigos. Chegou um caminhão tanque muito bonito. Eu era ainda adolescente curioso e subi na traseira do caminhão. Quando fui descer senti um choque muito grande, que me fez cair da escada até o chão. Mas quando o choque passou, só sentia um arrepio. Perguntaram se eu queria ir até o hospital e eu disse que não, queria trabalhar! Aquela semana não foi a mesma, senti alguma coisa diferente. Minha mão esquerda estava perdendo os movimentos, mas eu tinha vergonha de dizer para a minha família. Minha mãe soube do incidente, e minhas pernas também já estavam perdendo os movimentos. Entrei em estado de choque. Num domingo um casal de amigos levou-me para Porto Alegre fazer uma tomografia e foi constatado um problema cerebral sério. Fiquei internado aquela semana fazendo uma seção de exames, até descobrir que estava com duas bolas no cérebro, pensei que eram tumores mais descobrimos que eram coágulos, de 3 a 5 cm. Eu já estava em estado grave. Foi quando me avisaram que eu tive um AVC hemorrágico. Eu poderia ficar daquele tipo numa cama a vida toda ou não. Entrei em estado de choque, pois tinha muitos sonhos.


Voltei para casa, e muitas pessoas iam visitar-me. Diziam que eu não sobreviviria, ficava chateado. Via minha família ser aos poucos arrasada por causa da minha doença. Foi então que comecei a fazer fisioterapia diariamente. Sentia muita dor e não gostava muito, mas era obrigado pois minha família cobrava muito. Então algumas melhorias começaram a aparecer. O ano letivo começou e eu fui de muletas e com a voz enrolada. Machucava-me muito ainda ver as crianças fazendo esporte e eu não podendo. Cheguei a ter raiva de mim. Mas tinha confiança que Deus me preparava algo.


Depois de um ano comecei a andar sem muletas. Voltei a trabalhar naquele mercado, embora houvessem me dito que "pessoas aleijadas não trabalham", por isso fui buscar outro emprego. Ouvi muito "não" por causa da minha deficiência. Foi então que me decidi oferecer para trabalhar no melhor mercado da cidade, fui contratado para ser empacotador. Mesmo sem movimentar a mão esquerda, empacotava usando a mão direita e a boca. Aos poucos meus movimentos voltavam e minha fala também. O mercado ajudou-me muito na recuperação e eu fiz muitos amigos. Inclusive um ex-seminarista.


Conversava muito com ele e disse da vontade de ser padre. Então ele me recomendou ir conversar com o Pe. Thiago. Foi difícil criar coragem para conversar com ele. Cada vez que passava em frente da igreja ardia-me a vontade de ser padre. Então criei coragem e fui falar com o vigário, falei da minha vontade de ser padre. Foi então que fiz um estágio vocacional e fui aprovado.


Hoje, aqui no seminário, estou muito feliz. Não sinto mais aquele vazio que tinha em meu peito. Fiz novos amigos, e cada dia que passo sinto o sacerdócio mais perto do meu coração.





Um comentário:

  1. Albertina Spillere Busarello4 de abril de 2011 às 18:52

    Muito emocionante a história do Rafael...
    Isto prova que quem luta e tem Fé em Deus consegue superar todos os obstáculos.
    Parabéns Rafael pela sua persistência...
    Continue lutando.
    Berta

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